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terça-feira

Macunaíma - edição crítica





Sugestão de nosso amigo palhaço de classe, um achado, cadinho de sonho.

A edição crítica, coordenada por Telê Porto Ancona Lopez, de “Macunaíma – o herói sem nenhum caráter”, por Mário de Andrade.

O interesse por Macunaíma me foi renovado por uma controvérsia com um estudante, pondo-se contra à minha sugestão de utilizar “Macunaíma” para nomear uma atividade de extensão da faculdade, na qual estávamos juntos empenhados com outros professores, profissionais e estudantes. O seu argumento contra “Macunaíma” era o de que ele reforçaria o estigma de “negro preguiçoso”, e tudo enquanto fossem imagens negativas, pejorativas, contra as pessoas de cor. Mário de Andrade então teria prestado um desserviço às gentes brasileiras, ao esboçar qualidade tão vil quanto a preguiça como sendo parte (da falta de) do caráter da entidade nacional.

Foi então me socorrendo ao amigo palhaço de classe sobre o denunciado racismo na obra de nosso modernista “ingênuo”, que me apresentou a tal edição crítica em pauta.

Talvez ousasse dizer ao gentio estudante, que o trágico seja saber que renegar a preguiça seria permanecer encantado, e numa margem mais distante, pelo civilizado moderno –“macho adulto branco sempre no comando”. Ao contrário, 

"Uma brasileira preguiça, diria Antonio Cândido, como a reação do escravo predestinado pelo senhor a ser queimado no eito como carvão humano se não se poupa, negando-se à sua destinação de morrer para o patrão lucrar. Os descendentes do escravo e do senhor aí estão, até hoje, nesta contenda: os esfoladores e os esfolados, os tristes e os risonhos" (Darcy Ribeiro, p. XX).

No texto que segue a então "Liminar", de Darcy Ribeiro – entusiasta da obra -, “Situação de Macunaíma”, Alfredo Bosi escreveu:

“O brasileiro seria um homem desavindo consigo mesmo. Não encontrando lugar próprio nem na mata nem na metrópole, nem no Uraricoera nem na Paulicéia, ele padece em ambos. Não por acaso

Macunaíma desiste de viver na sua terra. Mas fugir para onde?

Para o céu, onde é possível morar como estrela e brilhar de um “brilho inútil”:

A Ursa Maior é Macunaíma. É mesmo o herói capenga que de tanto penar na terra sem saúde e com muita saúva, se aborreceu de tudo, foi-se embora e banza solitário no campo vasto do céu”.

A filosofia da preguiça tropical se espiritualiza e vira inércia sublimada” (!) (p. 180).