Logo de manhã, com a cabeça ainda voltada para a parede, e antes de ver,
acima das grandes cortinas da janela, que matiz tinha a raia de luz,
já eu sabia como estava o tempo. Os primeiros rumores da rua me
haviam informado disso, segundo me chegavam amortecidos e desviados
pela umidade ou vibrantes como flechas na área ressonante e vazia de
uma manhã espaçosa, glacial e pura; desde o rodar do primeiro
bonde, percebera se o tempo estava enregelado na chuva ou de partida
para o azul.
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Marcel Proust, A Prisioneira. Tradução: Manuel Bandeira e Lourdes
Sousa de Alencar. Editora Globo :/